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MOINHOS DE VENTO, UM BAIRRO QUE INSPIRA ARTE, DESIGN E ARQUITETURA
Tradicional bairro da capital gaúcha, o Moinhos de Vento consegue combinar elementos difíceis de encontrar hoje em dia. Seu ritmo desacelerado, parques e praças bem cuidados, ruas arborizadas, cafés, bares e restaurantes com mesas na calçada convidam para um passeio a pé ou um simples momento de contemplação em meio à natureza. E é justamente em ocasiões assim que surge a inspiração. De compor, criar, desenhar e escrever. Porque a inspiração precisa de tempo, de espaço, de cotidiano, de reflexão. É só olhar ao redor para perceber que o Moinhos de Vento tem tudo isso a oferecer.
“Nasci chorando, Moinhos de Vento. Subir no bonde, descer correndo…” Os versos da música Horizonte, escrita por Flávio Bicca Rocha e gravada na voz de Elaine Geissler para a peça teatral Bailei na Curva, no ano de 1983, são uma das mais famosas declarações de como o bairro inspira a arte. Não é preciso caminhar muito para reparar que, em cada esquina, em cada calçada e em cada fachada, dos antigos casarões aos modernos empreendimentos, o Moinhos de Vento é um bairro que inspira todos os estilos e vertentes artísticas: da música à dança, da gravura à pintura, da cerâmica à escultura, do design à arquitetura.
“A arte não visa funcionalidade, ela visa sentimento, visa percepção de espaço e forma”, define o artista plástico Paulo Aguinsky, médico do Hospital Moinhos de Vento (HMV) há mais de 50 anos e escultor autodidata desde os 15 de idade. Natural de São Borja, Aguinsky é autor das obras Embrião e Soma, ambas expostas no HMV. “Já tínhamos, há vários anos, esculturas expostas no saguão, nas entradas e corredores do Hospital e isso gerou muita atenção. As pessoas gostavam, elogiavam e quebrava um pouco aquele aspecto de hospital. Dava um aspecto mais humanístico, no sentido da sensibilidade da arte”, conta ele.
A partir disso, ele explica, surgiu a ideia de criar um ícone para o HMV, algo que fosse representativo à vida e ao Hospital. “Criei essa escultura ‘Embrião’ com a ideia de ser uma representação inicial, tanto da existência da vida quanto de alguém doente, que revive e renova a sua existência após um tratamento”, relata Aguinsky. “A ‘Soma’ dá uma ideia de soma da existência em si. Aquilo que se consegue juntar em vários aspectos, é o todo. É um pouco mais filosófico, mas também tem uma conotação de persistência, de existência. Esse é o tema fundamental dessa escultura.”
Para Aguinsky, a presença de peças de arte em edifícios e casas são sempre muito significativas. “É uma extensão do ser. A arte é uma extensão do indivíduo”, acredita o escultor. “Uma obra de arte não é um elemento decorativo, porque ela pode até nem combinar com o todo. Ela é um elemento de identidade de quem tem a obra de arte”, completa.
PONTO DE ENCONTRO DA ARTE E DA ARQUITETURA
Quem anda pelas ruas do Moinhos de Vento pode observar diversos traços e estilos arquitetônicos que revelam parte da história do bairro. Um dos prédios que mais chama a atenção por sua beleza e imponência é o da Hidráulica Moinhos de Vento, onde fica a Estação de Tratamento de Água Moinhos de Vento do Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE). Construído entre 1927 e 1928, em uma área de seis hectares, tem sua arquitetura inspirada no Palácio de Versalhes, da França, inclusive os jardins, que servem de cenário para muitas filmagens e ensaios fotográficos, e apresenta traços ecléticos e positivistas.
Junto ao jardim, encontra-se o chafariz e as esculturas que o circundam. As quatro estátuas representam os afluentes do Guaíba – sendo duas figuras femininas, conhecidas como Ninfas, que simbolizam os rios Caí e Sinos, e duas masculinas, chamados de Netunos, representando os rios Jacuí e Gravataí. A mais antiga fonte pública monumental de Porto Alegre, instalada primeiramente na Praça da Matriz em 1866, tinha o propósito de distribuir água potável pela primeira vez para a população da cidade. Esculpidas em mármores de Carrara, as estátuas têm uma estética clássica idealizada pelo arquiteto italiano José Obino e foram instaladas no jardim do DMAE em 2014.
Além de um exterior repleto de história e arte, o prédio abriga o Centro Histórico-Cultural Antônio Klinger Filho, mais conhecido como Galeria de Arte do DMAE. Inaugurado em 1986, recebe exposições de arte contemporânea, saraus solidários, palestras e apresentações, entre outras atividades culturais e educativas. Por ter sido um reservatório de água na década de 1940, o local possui uma estrutura arquitetônica diferenciada, com 16 pilares e altura do pé direito superior a 3,80 metros. Aberto ao público e de acesso gratuito, o acervo reúne mais de 200 peças doadas por artistas plásticos que participaram de mostras no local.
“Quem vem aqui encontra exposições das mais variadas temáticas e tendências. Inúmeros artistas passaram por aqui, tanto locais quanto de outros estados do Brasil”, menciona Jaime Pereira Júnior, servidor do DMAE há 27 anos e responsável pela Galeria de Arte há 21. “O Moinhos de Vento é um bairro que tem tudo a ver com arte. É uma região tradicional da cidade, um bairro nobre, agradável de circular, que tem espaços públicos bem cuidados, muito bonitos. Isso por si só já é inspirador”, afirma ele.
Desde fevereiro deste ano, o Centro Histórico-Cultural soma mais um incentivo à promoção das artes visuais ao ter parte do seu ambiente cedido ao acervo e às atividades da Associação de Artes Plásticas Chico Lisboa. “A Chico é um ponto fundamental nas artes plásticas do Rio Grande do Sul. Ela está aqui desde 1938. Portanto, vamos completar 85 anos e fazer uma grande festa”, celebra a ceramista Zica Fortini, diretora da
Associação. “Vamos proporcionar para esse bairro maravilhoso, que é o Moinhos de Vento, mais um espaço de fruição das artes plásticas. Acho perfeita essa combinação”, destaca a artista.
Além de exposições temporárias, os visitantes podem conferir a produção de 57 artistas associados à Chico, utilizando linguagens variadas como pintura, desenho, cerâmica, escultura e instalações. “O brasileiro é muito criativo e deve se orgulhar disso. Temos uma cultura própria, uma regionalidade super rica. Temos que valorizar isso”, evidencia Zica.
ESPAÇO PÚBLICO DE ARTE E CONTEMPLAÇÃO
Considerado um dos lugares mais agradáveis do bairro, o Parque Moinhos de Vento, ou Parcão, como é carinhosamente chamado pelos porto-alegrenses, também expõe, em sua área de mais de 11 hectares, importantes obras de arte. De frente para a rua 24 de Outubro, está o Monumento a Castello Branco, uma gigantesca escultura em homenagem ao ex-presidente Humberto de Alencar Castello Branco. Encomendada por grupos empresariais da cidade, foi executada por Carlos Trenius e inaugurada em 1979.
Já do lado esportivo do parque, há uma nova obra de cinco metros de altura entregue em maio de 2022 em homenagem aos 250 anos de Porto Alegre. A peça denominada Antera, em referência a parte onde se formam os grãos de pólen das flores, representa a fertilização de novas ideias, de acordo com o autor Rogério Pessôa. Em chapa de aço patinável, a escultura possui uma fenda aberta que a transpassa de forma reta e vertical, do chão ao topo, onde encontra uma tela de contenção em formato de casulo, com peças cerâmicas dentro, representando os grãos de pólen.
LOCAIS DE ARTE E CULTURA NO MOINHOS DE VENTO
Espaço Arte Design Prado
Local de apreciação e comercialização de arte e design, em meio a mobiliário de design nacional assinado, que acolhe atividades de lançamento de serviços e produtos, palestras e feiras das áreas de arquitetura, moda, cultura, tecnologia e estilo de vida.
Endereço: Galeria Casa Prado – Rua Dinarte Ribeiro, 148
Horário: segunda a domingo, das 10h às 20h
Site: www.facebook.com/galeriacasaprado
Galeria de Arte do DMAE
O local foi um reservatório de água na década de 1940, por isso sua arquitetura é diferenciada. Compõem o acervo mais de 200 obras doadas pelos artistas plásticos que participaram de exposições na galeria.
Endereço: Rua 24 de Outubro, 200
Horário: segunda a sexta, exceto feriados, das 8h às 17h30
Site: https://prefeitura.poa.br/dmae/galeria-de-arte
Galeria Garagem de Arte Stockinger
Espaço que tem como missão levar ao público os mais importantes artistas modernistas e contemporâneos do País e oferecer aos colecionadores de arte a oportunidade de acesso a um acervo de grande valor cultural.
Endereço: Rua Luciana de Abreu, 450
Site: www.garagemdearte.com.br
Goethe-Institut Porto Alegre
Instituto cultural de âmbito internacional da República Federal da Alemanha que visa à atualização da imagem da Alemanha no Brasil, à apresentação da cultura alemã contemporânea e à inserção da língua e da cultura alemãs no sistema educacional brasileiro.
Endereço: Rua 24 de Outubro, 112
Horário (Galeria): segunda a sexta, 9h às 19h; sábado, das 9h às 13h
Site: www.goethe.de/ins/br/pt/sta/poa.html
Sala de Arte de Porto Alegre
Fundada em 1980 por Leda e Jorge Karam, reúne um extenso acervo de obras de arte, pinturas e esculturas de artistas gaúchos, brasileiros e estrangeiros.
Endereço: Rua Coronel Bordini, 907
Horário: segunda a sexta, das 10h às 12h e das 14h às 18h; sábado, das 10h às 13h
Site: www.saladearte.com.br
Urban Arts
Galeria dedicada ao universo da arquitetura e decoração em um charmoso imóvel de 250 m² sob o comando da empresária e arquiteta carioca Fernanda Zagury.
Endereço: Rua Coronel Bordini, 793
Horário: segunda a sexta, das 9h às 19h; sábado, das 10h às 18h.
Site: www.urbanarts.com.br